Intervenção Psicomotora na Terceira Idade  (Gerontopsicomotricidade)

28-06-2021

Desde sempre que procuramos o elixir da juventude, procuramos não envelhecer e ser imortais (basta olhar para os inúmeros filmes, séries,... cujo enredo se foca na busca pela vida eterna). 

O modo como encaramos o envelhecimento está muito associado à sociedade onde nos encontramos inseridos. Enquanto que algumas sociedades encaram o envelhecimento como algo negativo, algo mau, há outras sociedades que vêm o envelhecimento como algo benéfico, como um sinal de experiência e sabedoria de vida. 

O envelhecimento é um processo comum a todos, progressivo e inevitável (Rosa, 2016). É um processo universal. Alguns autores definem o envelhecimento numa perspetiva cronológica e consideram o indivíduo idoso a partir dos 60 ou 65 anos (Hayek et al., 2016). Em Portugal o indivíduo é considerado idoso a partir dos 65 anos e no Brasil a partir dos 60 anos. 

O envelhecimento pode ser explicado de várias formas: 

Do ponto de vista físico - cabelos brancos, rugas, postura mais curvada, entre outras características. 

De uma perspetiva biopsicológica - é um processo vivido de uma forma distinta por cada indivíduo. Depende de vários fatores: dos seus comportamentos e hábitos ao longo da vida, género, condições genéticas e da sociedade onde o sujeito se encontra inserido, entre outros (Rosa, 2016). 

Apesar de o envelhecimento ser um processo progressivo e multifatorial é uma experiência que deve ser vivida de uma forma positiva e bem-sucedida, refletindo-se de forma saliente na qualidade de vida do indivíduo (Valer, Bierhals, Aires, & Paskulin, 2015) e, para isso, é fundamental preparar o envelhecimento. 

Segundo alguns autores, o processo de envelhecimento não está obrigatoriamente associado a patologias e a incapacidades, no entanto doenças crónico-degenerativas são habitualmente detetadas em idosos, com repercussões adversas na sua capacidade funcional (Hayek et al., 2016). 

Assim, ainda que envelhecer seja um processo normal por vezes leva a um aumento da fragilidade e vulnerabilidade. Entende-se por isso que o envelhecimento humano é um processo dinâmico, diferencial e heterogéneo pois cada um de nós irá viver este processo de forma distinta.

Envelhecimento e velhice

Envelhecimento é diferente de velhice. O envelhecimento começa assim que somos gerados, A velhice ou os seus sinais e sintomas físicos e mentais só se manifestam de forma clara a partir de determinada idade. 

Associado ao conceito de envelhecimento está normalmente o conceito de senescência que se refere ao aumento de probabilidade da morte, com o avanço da idade. 

O envelhecimento pode ser classificado em:

Envelhecimento primário: O envelhecimento primário ocorre quando as mudanças intrínsecas ao processo de envelhecimento são irreversíveis, progressivas e universais (o aparecimento de rugas, o aparecimento de cabelos brancos, as perdas de massa óssea e muscular, o decrescimento do equilíbrio, da força e da velocidade e as perdas cognitivas). 

A literatura refere que o envelhecimento primário é um processo gradual e inevitável de deterioração corporal que se inicia numa determinada fase da vida e que continua com o passar dos anos. 

Envelhecimento secundário: as mudanças são causadas por doenças que são dependentes da idade, sendo o tempo vivido significativo para o aumento da probabilidade de exposição a elementos de risco, apresentando o organismo uma crescente vulnerabilidade com o avançar da idade (doenças cerebrovasculares, cardiovasculares, esclerose múltipla, doença de Alzheimer e depressão). O envelhecimento secundário será o resultado de doenças ou outros fatores que, por vezes, são evitáveis (má alimentação, sedentarismo, hábitos tabágicos...) pois  encontram-se sob o controle dos indivíduos e, através da manutenção de atividade física e de uma alimentação saudável poderão ser minimizados. 

Envelhecimento terciário: corresponde ao declínio terminal, Caracteriza-se pelo aumento considerável do número de perdas num espaço de tempo relativamente breve, originando a morte. Por exemplo: Caso de doentes em fase terminal. 

Alterações que ocorrem com o envelhecimento 

De uma forma geral, com o envelhecimento surgem alterações a vários níveis: físico, psicológico, cognitivo e social. 

Para beneficiar de um envelhecimento bem sucedido devem ser estimulados os domínios comportamentais em que o indivíduo detém um melhor nível de funcionamento e promover essa função através de estratégias de treino e de objetivos para melhorar a sua atividade, pois algumas das alterações morfológicas e funcionais estão associadas à maior taxa de sedentarismo das pessoas idosas, e não apenas ao envelhecimento celular. 

A maioria dos efeitos do envelhecimento acontece pela imobilidade e má adaptação e não devido a doenças crónicas. Desta forma alguns dos problemas que costumam ser atribuídos ao envelhecimento propriamente dito devem-se a fatores de estilo de vida ou a doenças que acompanham ou não o envelhecimento. 

Ao longo da evolução do ser humano foram elaboradas algumas teorias: filogénese (evolução da espécie desde os primórdios), ontogénese (desenvolvimento humano principalmente nos primeiros anos de vida) e retrogénese. 

A literatura refere que com o envelhecimento ocorre o processo de retrogénese (processo "inverso" ao da ontogénese. Há uma "perda", regressão das capacidades adquiridas, tanto a nível motor, cognitivo, socioemocional e percetivo.) 

Intervenção Psicomotora com Idosos 

Cada vez mais se verifica uma preocupação crescente com a saúde e o bem-estar do idoso. O foco está não só em tratar as doenças já existentes mas também em prevenir doenças futuras a vários níveis: físico, psicológico e social, promovendo um envelhecimento com a maior qualidade de vida possível (Carvalho & Dias, 2016). Assim sendo, é cada mais importante implementar intervenções que visem a manutenção e/ou melhoria das capacidades do indivíduo idoso. 

Gerontopsicomotricidade - Psicomotricidade dirigida ao idoso

De uma forma geral a gerontopsicomotricidade é "uma terapia não farmacológica e de mediação corporal, que encara o indivíduo como um todo, prestando atenção a todos os seus aspetos: cognitivos, socioemocionais e contextuais, permitindo assim ao técnico elaborar programas de intervenção que vão de encontro às necessidades dos diferentes indivíduos" (Branquinho & Espadinha, 2019). 

A terapia psicomotora tem como base 7 fatores psicomotores: tonicidade, equilibração, lateralização, noção do corpo, estruturação espácio-temporal; praxia global e praxia fina (da Fonseca, 2019). Com o envelhecimento o idoso pode desenvolver alguns problemas psicomotores como: 

  • lentidão psicomotora;
  • perda de força;
  • fadiga;
  • aumento do tempo de reação;
  • problemas práxicos;
  • problemas espácio-temporais;
  • alterações ao nível da marcha;
  • medo de cair;
  • dificuldades de comunicação em grupo;
  • problemas de regulação emocional;
  • angústias e/ou desvalorização da imagem corporal;
  • entre outros. 

Tanto a parte física como a psicológica podem estar comprometidas sendo que existe uma interdependência funcional entre ambas, o que reforça o papel da psicomotricidade (Fernandes, 2014). 

A gerontopsicomotricidade pode atuar de forma reeducativa na melhoria do equilíbrio, na regulação do movimento, na melhoria da memória e outras capacidades cognitivas. 

O psicomotricista pode atuar ao nível de patologias somáticas que influenciam a componente sensorial, locomoção e comunicação, problemas psiquiátricos como a demência e depressão, e a nível neurológico como a doença de Parkinson, AVC e outras (Fernandes, 2014). 

A intervenção pode ser realizada a nível individual e/ou em grupo. Se por um lado a intervenção individual permite dar uma maior atenção ao indivíduo, a intervenção em grupo é benéfica uma vez que proporciona a interação social e fomenta a criação entre pares. A intervenção deve ser sempre adequada às necessidades do idoso.

A psicomotricidade pode atuar com o idoso numa vertente:

 Preventiva (Estimulação)

  • estimular as capacidades do idoso de forma a que as mantenha durante o maior período de tempo possível ou até em alguns casos as melhore. 

 Terapêutica:

  • tratar e, quando já não é possível melhorar, pelo menos retardar as perdas que possam ocorrer. 

A gerontopsicomotricidade atua sempre no sentido de encarar o envelhecimento numa perspetiva mais positiva! Não foca apenas na perda de habilidades, mas também em adaptações que podem ser feitas no sentido de o sujeito se adaptar aos desafios que ocorrem ao longo do envelhecimento. O objetivo é sempre a autonomia e independência do individuo durante o maior período possível e no maior número de atividades possíveis.  Um indivíduo com demência, pode já não ser capaz de escolher a roupa que vai vestir no dia-a-dia, no entanto podemos sempre dar-lhe a oportunidade de escolher entre 2 camisolas (por exemplo) qual a sua preferida, podemos dar a oportunidade de escolher entre 2 cores qual a que prefere para as suas unhas, entre outras coisas. 

A intervenção psicomotora, por si só já promove inúmeros benefícios e, se aliada à atividade física, com acompanhamento de profissionais qualificados, estes podem ser ainda maiores pois reduzem o risco de desenvolver patologias associadas ao envelhecimento como doenças cardiovasculares, metabólicas, osteoartroses, entre outras. Ambas assumem também um importante papel a nível cognitivo, nomeadamente em patologias como a Doença de Alzheimer e outras demências e na redução da sintomatologia depressiva tão característica desta idade e prevalente em idosos institucionalizados (Harmell, Jeste, & Depp, 2014). 

A atividade física para além de manter o idoso ativo e dos múltiplos benefícios acima referidos pode promover um aumento da autoestima e sentimentos positivos, fomentando ainda a socialização entre pares (Harmell et al., 2014). 

Sugestões de atividades para o idoso se manter ativo 

  • Jardinagem; 
  • Ler as notícias da região e comentar com o familiar/amigo; 
  • Puzzles; 
  • Jogos de mesa;
  • Fazer uma caminhada; 
  • Conversar ou escrever um diário sobre o dia e/ou histórias de antigamente; 
  • Criar pelo menos "um dia da beleza"; 
  • Cantar músicas; 
  • Meditar; 
  • Artesanato; 
  • Artes - pintar, desenhar, entre outras; 
  • Dançar; 
  • Elaborar novas receitas.
E tu? Como é que encaras o processo de envelhecimento? Já estas a preparar o teu envelhecimento bem sucedido?
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