Quedas na Terceira Idade: Prevenção - Parte II

12-10-2020

Como já referido no artigo anterior são múltiplos os estudos que abordam as quedas na terceira idade e a prevenção das mesmas. 

A literatura refere que a suplementação com vitamina D, a adoção de uma alimentação equilibrada, a prática de exercício físico, a organização ao nível do ambiente familiar e outros, podem contribuir para a minimização da probabilidade de queda (Gaspar, et al.,2017). Alguns autores referem que medidas como o evitar subir e/ou descer escadas, caminhar de uma forma mais lenta, utilizar material de apoio à marcha (bengalas, andarilhos e outros), não consumir bebidas alcoólicas, o uso de lentes corretivas (quando necessários) entre outros, são comportamentos que podem reduzir o risco de queda (Gaspar, et al.,2017).

De seguida iremos abordar a importância da alimentação, do exercício físico e da intervenção psicomotora neste âmbito. 

Alimentação:

A nutrição tem um importante papel na vida de todos nós, uma vez que uma alimentação saudável é meio caminho andado para uma melhor qualidade de vida. Com o avançar da idade, uma alimentação saudável e equilibrada, adequada às necessidades individuais de cada um é de importante relevo. Estudos indicam que existe uma forte ligação entre o tipo de dieta e o aparecimento de doenças crónicas (Bernardi, Maciel, & Baratto, 2017).

Durante o envelhecimento, mais especificamente entre os 40 e 70 anos de idade, há uma maior tendência para uma ingestão inadequada de macro e micronutrientes. A baixa ingestão de alguns nutrientes, como proteínas, vitamina D, carotenoides, selénio, vitamina E, vitamina C e antioxidantes leva à intensificação da perda de massa muscular esquelética (Valentim, Carrapeiro, & Gurgel, 2016). São múltiplos os fatores que podem levar a uma má nutrição, sendo que as principais causas no idoso são:  perda de apetite, redução do paladar e do olfato, má saúde oral, saciedade precoce, fatores psicossociais, económicos, medicamentosos, entre outros (Valentim, Carrapeiro, & Gurgel, 2016).

Uma alimentação inadequada associada ao sedentarismo contribui para o declínio progressivo da massa muscular e consequentemente da função, levando à perda de força, potência e resistência da massa muscular.  Por sua vez, a redução de massa muscular é acompanhada, em geral, pelo aumento do tecido adiposo (Valentim, Carrapeiro, & Gurgel, 2016).

A suplementação de cálcio e vitamina D ("adquirida" com a exposição controlada à luz solar) tem grande importância nesta idade uma vez que contribui para a prevenção da osteoporose, patologia tão frequente nesta idade e que aumenta o risco de fratura. A vitamina D tem um importante papel  na absorção do cálcio pelo intestino e na reabsorção óssea.  O leite e os seus derivados são exemplos dos vários alimentos que são ricos em cálcio e que podem contribuir para reduzir o risco de sarcopenia e de osteoporose (Ferreira, Teixeira, Araújo,, & Siqueira, 2017). 

Uma alimentação saudável e equilibrada tem assim uma grande importância uma vez que contribui para o fortalecimento do sistema musculoesquelético e assim, reduzir o risco de fratura em caso de queda.  

Exercício Físico:

O Exercício Físico (EF), é fundamental para esta população uma vez que os indivíduos se mantêm ativos e contribui para que os sujeitos se mantenham mais autónomos na realização de atividades de vida diária (Hayek, et al., 2016).

O EF assume um papel fundamental na medida em que minimiza ou atrasa os problemas associados ao envelhecimento. Ao nível do sistema músculo esquelético promove o aumento da força muscular e contribui para que a perda de massa muscular e óssea ocorra de uma forma mais lenta (Hayek, et al., 2016).  Vários estudos dizem que a prática de EF de uma forma isolada ou associada a outras terapias são eficazes na diminuição do número e risco de quedas. Os exercícios devem ser realizados de uma forma individualizada e/ou com o menor número de indivíduos possíveis, de forma a garantir que o técnico reduza as dificuldades do indivíduo e que potencie as suas capacidades (Cunha & Pinheiro, 2016).

O tipo de EF que parece apresentar melhor resultado é o treino do equilíbrio, o que leva a um "significativo efeito protetor na redução de quedas". Quanto mais prolongado no tempo maior será a sua eficácia (Cunha & Pinheiro, 2016).

Segundo Manzo (2007) citado por Hayek et al (2016), a prática de EF potencia as capacidades físicas dos idosos, como a força, equilíbrio, coordenação, velocidade, agilidade e flexibilidade. Promove o aumento de autoestima e a previne a ocorrência de quedas e de lesões. Relativamente à flexibilidade, o EF é fundamental, uma vez que melhora as propriedades do tecido muscular e reduz a dor articular assim como altera os padrões de recrutamento do músculo (Azevedo, Sampaio, & Brêtas, 2018).

A realização de agachamentos é essencial, tendo em conta sempre as capacidades e limitações de cada indivíduo, uma vez que o agachamento "imita" tarefas do dia-a-dia, como o sentar e levantar de cadeiras, por exemplo. Este exercício permite um aumento da força muscular, contribuindo assim para a melhoria do desempenho funcional do indivíduo. Tudo isto relacionado, visa uma melhor qualidade de vida para o sujeito, e funciona como um "aliado" para a prevenção de quedas (Hayek, et al., 2016). O treino de força é também indicado para esta população, dado que o aumento da força muscular é essencial, uma vez que a perda de força muscular compromete a funcionalidade do sujeito (Azevedo, Sampaio, & Brêtas, 2018). 

De salientar que o EF apesar de ser um importante aliado na minimização do risco de quedas deve sempre ser adaptado às características do sujeito de forma a que a segurança do indivíduo seja garantida. 

Intervenção Psicomotora:

"A psicomotricidade é a ciência que visa estudar o homem por meio de seu corpo em movimento, a interação deste homem com os estímulos internos e externos, a sua forma de agir com o outro, com os objetos que o cercam e consigo mesmo (Silva & Souza, 2018) ". A Gerontopsicomotricidade, como o próprio nome indica, é a psicomotricidade direcionada para os idosos. 

A intervenção psicomotora pode atuar na diminuição do risco de quedas, uma vez que pode trabalhar com os indivíduos ao nível da tonicidade, equilibração, noção do corpo, estruturação espácio-temporal e praxia global (Miranda, Bueno, Ribeiro, Matos, & Fonseca, 2018). O meio aquático, nomeadamente a psicomotricidade em contexto aquático, tem também um papel importante na prevenção do risco de quedas uma vez que: 

  • minimiza o stress biomecânico nos músculos e articulações; 
  • melhora a circulação sanguínea (devido à água quente); 
  • promove o aumento da força muscular e da amplitude articular;
  • contribui para o relaxamento muscular, 
  • diminui temporariamente o nível de dor; 
  • melhora a confiança e a capacidade funcional, 
  • desenvolve o controlo postural (habilidade de manter o equilíbrio na oscilação e recuperação do centro de massa corporal sobre a base de sustentação) (Miranda, Bueno, Ribeiro, Matos, & Fonseca, 2018).

Ainda segundo os mesmos autores, a intervenção psicomotora em meio aquático é importante na prevenção de quedas uma vez que, para além de outros fatores, trabalha o equilíbrio e aprimora o sistema vestibular, visual e somatossensorial (de modo a ativar os músculos antigravitacionais).

De uma forma geral a psicomotricidade tem um importante papel na prevenção e minimização do risco de queda uma vez que atua ao nível dos fatores psicomotores com especial foco na equilibração, noção do corpo, estruturação espácio-temporal e praxia global. A psicomotricidade em meio aquático tem também um importante papel neste âmbito como já referido anteriormente. 

De salientar que a intervenção deve ser sempre multidisciplinar e que existem muitas outras terapias que desempenham um importante papel neste sentido. 


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Imagens retiradas de: https://www.pexels.com/pt 

Referências Bibliográficas:

Bernardi, A. P., Maciel, M. A., & Baratto, I. (2017). Educação nutricional e alimentação saudável para alunos da universidade aberta a terceira idade. Revista Brasileira de Obesidade, Nutrição e Emagrecimento, 11(64), pp. 224-231.

Gaspar, A. C., Azevedo, R. C., Reiners, A. A., Mendes, P. A., & Segri, N. J. (2017). Fatores associados às práticas preventivas de quedas em idosos. Escola Anna Nery, pp. 1-8. doi:10.5935/1414-8145.20170044

Ferreira, C. T., Teixeira, C. M., A. M., & Siqueira, A. B. (2017). Benefícios Nutricionais Compostos no Leite e Seus Derivados Para a População Geriátrica. Revista Brasileira de Agrotecnologia, 7(1), pp. 122-125.

Hayek, Y., Sousa, E. S., Andrade, J. B., Silva, L. A., Freitas, R. C., & Reis, T. d. (julho de 2016). Os Benefícios do Exercício de Agachamento na Funcionalidade do Indivíduo na Terceira Idade. UniÍtalo em Pesquisa, pp. 55-71.

Valentim, E. L., Carrapeiro, M. d., & Gurgel, D. C. (2016). Correlação entre consumo alimentar e prevalência de sarcopenia em idosos de duas cidades do Ceará. Nutrivisa - Revista de Nutrição e Vigilância em Saúde, 3(2).

Azevedo, M. L., Sampaio, H. F., & Brêtas, A. (jul-dez de 2018). Projeto Animar sem Quedas: sua contribuição para a prevenção de quedas em adultos e idosos e para a promoção de um envelhecimento . Interagir: Pensando a Extensão, pp. 1-10.

Cunha, P., & Pinheiro, L. C. (2016). O papel do exercício físico na prevenção das quedas nos idosos: uma revisão baseada na evidência. Revista Portuguesa de Medicina Geral Familiar , pp. 96-100.

Miranda, M. R., Bueno, G. C., Ribeiro, L. C., Matos, J. F., & Fonseca, C. d. (2018). Benefícios da Hidroterapia em Pacientes após Acidente Vascular Cerebral (AVC). Revista de Iniciação Científica e Extensão, pp. 465-471.

Silva, F. d., & Souza, M. F. (2018). Um caminho para a intervenção com crianças autistas. Pretextos-Revista da Graduação em Psicologia da PUC Minas, pp. 500-519.

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